quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Resenha: Quanto vale ou é por quilo?

Filme: Quanto vale ou é por quilo

Brasil, 2005
Direção: SÉRGIO BIANCHI
Roteiro: SÉRGIO BIANCHI, EDUARDO BENAIM, NEWTON CANITTO

O cineasta Sérgio Bianchi propõe em seu filme mostrar a época de escravidão, em uma história que segue paralelamente entre dois tempos distintos, através de uma construção do mestiço, em que são entrecruzados múltiplas linguagens, discursos tempos, locais de enunciação, memórias diferenciadas.

Quanto vale ou é por quilo, deixa muito nítido a construção do discurso e da ética dominante na sociedade brasileira em distintos tempos, explicitando a ferocidade com que a elite atua na manutenção de cadeia de exploração sexual, mais também assimilando a futilidade de seus relacionamentos com a camada menos favorecida da população.

O filme levanta crítica sobre a classe dominante na época, cuja ojeriza e medo ao contato com as camadas populares ficam explícitos. Denuncia os conchavos de alianças com os quais a elite mantém o controle sobre os postos estratégicos e sobre o capital nacional, utilizando inclusive as ONGs como um grande negocia lucrativo, onde empresas nacionais operação a lavagem de dinheiro.

No filme retrata que a miséria está basicamente no negro. A pobreza é usada pelos ricos, eternamente, para se manterem no topo, como propaganda da boa vontade dos que têm para com os que não têm. Contrapondo os argumentos de Gilberto Freyre que reproduz em sua obra Casa Grande & Senzada, o oposto que foi exibido no filme. Freyre expõem que o negro e o branco viviam em estado harmonioso e democrático.

Para Gilberto Freyre, o conceito de democracia racial coloca a escravidão para fora da simples ótica da dominação. A condição do escravo, nessa obra, é historicamente articulada com relatos e dados onde os escravos vivem situações diferentes do trabalho compulsório nas casas e lavouras. De fato, muitos escravos viveram situações em que desfrutavam de certo conforto material ou ocupavam posições de confiança e prestígio na hierarquia da sociedade colonial. Os próprios documentos utilizados na obra de Freyre apontam essa tendência.

O filme coloca o antigo comércio de escravos e a exploração da miséria pelo marketing social como imagens separadas que se articula em uma montagem para dizer que o que vale é o lucro, não importando se esse é obtido com a venda de um escravo ou através de projetos sociais com orçamento superfaturados. A grande questão é que apesar de fazermos parte de um país “democrático”, o sistema do consumo é o que prevalece, a “lambança social” está no filme retrata.

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